Festas em cafeterias, às 10h da manhã, com café no lugar de drinques alcoólicos. Se antes isso pareceria um contrassenso, hoje é parte de uma transformação mais ampla no comportamento do público — especialmente entre os mais jovens. Eventos matinais, voltados ao bem-estar e à convivência, estão ganhando espaço e reconfigurando o mercado.
O modelo nasceu em Londres com as chamadas morning raves: encontros organizados nas primeiras horas do dia, que misturam música eletrônica, café, yoga e dança. O conceito, que mais tarde se espalhou por cidades como Nova York, Los Angeles e Berlim, chegou ao Brasil adaptado à cultura local — e São Paulo é um dos principais polos dessa tendência.
A cafeteria Stereo Café Co., no centro da capital paulista, é um dos exemplos mais conhecidos da cidade. A proposta é simples: promover experiências presenciais que unam DJs, gastronomia, café especial e, principalmente, um novo jeito de se conectar com as pessoas.
Mudança de perfil
O público mais jovem, especialmente da geração Z, demonstra preferência por experiências com significado e menor apelo ao consumo tradicional de álcool. Segundo um levantamento da consultoria britânica Olive, essa geração tem quatro vezes mais interesse em conhecer novas pessoas em atividades de bem-estar do que em bares e baladas.
Essa mudança está relacionada ao avanço de três movimentos globais: o wellness (que coloca saúde mental e emocional no centro das escolhas), o slow living (com foco em desacelerar e priorizar presença) e a chamada economia da experiência — em que consumir vai além da compra e envolve viver algo único.
Segundo dados do setor, o mercado de experiências autênticas cresceu 38% nos últimos três anos. E a tendência é que esse número continue avançando, à medida que marcas e estabelecimentos passam a investir mais em eventos que aproximam e criam vínculos reais com o público.
Oportunidade para o setor
Para bares, restaurantes e casas noturnas, o crescimento das festas diurnas em cafeterias representa um sinal de alerta e também uma janela de oportunidade. Há um público disposto a pagar por experiências diferentes, que priorizam o coletivo, o bem-estar e a qualidade do tempo.
Formatos como brunch com trilha sonora, encontros temáticos, eventos culturais e aniversários em cafeterias mostram que o calendário de eventos pode ser ampliado para além da noite — com bom retorno e menor risco.
Adaptar-se a essa nova lógica não exige grandes investimentos, mas sim criatividade, atenção ao comportamento do consumidor e disposição para experimentar novos formatos.
Inovar é necessário
Fidelizar o público hoje envolve mais do que cardápio e atendimento. Passa pela construção de comunidade, de espaços que ofereçam experiências genuínas, e de eventos que respeitem o novo ritmo de vida das pessoas. As cafeterias entenderam isso. E já começaram a se mover.
A pergunta que fica para os empresários do setor é: se até o café virou balada, o que mais pode ser reinventado no seu negócio?