Apesar da leve retração na confiança empresarial registrada em junho, bares e restaurantes mantêm um desempenho estável e com sinais de recuperação no acumulado do primeiro semestre de 2025. Segundo o Índice de Confiança Empresarial (ICE), divulgado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), houve recuo de 1,7 ponto em relação ao mês anterior, fechando o período em 92,5 pontos. O setor de serviços, que inclui a alimentação fora do lar, também apresentou uma leve queda: 1,2 ponto, alcançando 90,7.

O ICE é um indicador que mede a percepção de empresários sobre o momento atual dos seus negócios e suas expectativas para os próximos meses. Após cinco meses de relativa estabilidade, o movimento de junho indica uma postura mais cautelosa, impulsionada por fatores macroeconômicos.

Entre eles, destaca-se a taxa Selic, que atingiu 15% ao ano — o maior patamar desde 2006. O cenário de juros elevados impacta diretamente os pequenos negócios, ao encarecer o crédito e reduzir a margem de manobra para investimentos. Ainda assim, bares e restaurantes vêm demonstrando resiliência, especialmente em São Paulo, onde a atividade segue aquecida e com geração de empregos.

De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), divulgada pelo IBGE, o segmento de alimentação fora do lar registrou a criação de 17 mil postos de trabalho formais e informais nos últimos 12 meses. O dado reforça o dinamismo do setor e sua capacidade de se adaptar mesmo diante de instabilidades econômicas.

Outro indicador que aponta para uma melhora gradual é a situação financeira dos estabelecimentos. Em janeiro, cerca de 25% das empresas do setor operavam no vermelho. Já em maio, o percentual caiu para 19%, mostrando avanços em termos de gestão e controle de despesas.

Apesar da queda no índice de confiança, a perspectiva para o segundo semestre é otimista. A chegada do período de férias escolares, as comemorações do Dia dos Pais e o início do verão tradicionalmente impulsionam o consumo em bares e restaurantes, elevando o fluxo de clientes e contribuindo para o fortalecimento das receitas.

O setor de alimentação fora do lar, que é historicamente sensível às oscilações econômicas, tem demonstrado fôlego ao se reinventar e buscar alternativas para manter a competitividade. Em São Paulo, o ritmo de abertura de novos estabelecimentos continua consistente, evidenciando a confiança dos empreendedores na retomada da economia no médio prazo.

Festas em cafeterias, às 10h da manhã, com café no lugar de drinques alcoólicos. Se antes isso pareceria um contrassenso, hoje é parte de uma transformação mais ampla no comportamento do público — especialmente entre os mais jovens. Eventos matinais, voltados ao bem-estar e à convivência, estão ganhando espaço e reconfigurando o mercado.

O modelo nasceu em Londres com as chamadas morning raves: encontros organizados nas primeiras horas do dia, que misturam música eletrônica, café, yoga e dança. O conceito, que mais tarde se espalhou por cidades como Nova York, Los Angeles e Berlim, chegou ao Brasil adaptado à cultura local — e São Paulo é um dos principais polos dessa tendência.

A cafeteria Stereo Café Co., no centro da capital paulista, é um dos exemplos mais conhecidos da cidade. A proposta é simples: promover experiências presenciais que unam DJs, gastronomia, café especial e, principalmente, um novo jeito de se conectar com as pessoas.

Mudança de perfil

O público mais jovem, especialmente da geração Z, demonstra preferência por experiências com significado e menor apelo ao consumo tradicional de álcool. Segundo um levantamento da consultoria britânica Olive, essa geração tem quatro vezes mais interesse em conhecer novas pessoas em atividades de bem-estar do que em bares e baladas.

Essa mudança está relacionada ao avanço de três movimentos globais: o wellness (que coloca saúde mental e emocional no centro das escolhas), o slow living (com foco em desacelerar e priorizar presença) e a chamada economia da experiência — em que consumir vai além da compra e envolve viver algo único.

Segundo dados do setor, o mercado de experiências autênticas cresceu 38% nos últimos três anos. E a tendência é que esse número continue avançando, à medida que marcas e estabelecimentos passam a investir mais em eventos que aproximam e criam vínculos reais com o público.

Oportunidade para o setor

Para bares, restaurantes e casas noturnas, o crescimento das festas diurnas em cafeterias representa um sinal de alerta e também uma janela de oportunidade. Há um público disposto a pagar por experiências diferentes, que priorizam o coletivo, o bem-estar e a qualidade do tempo.

Formatos como brunch com trilha sonora, encontros temáticos, eventos culturais e aniversários em cafeterias mostram que o calendário de eventos pode ser ampliado para além da noite — com bom retorno e menor risco.

Adaptar-se a essa nova lógica não exige grandes investimentos, mas sim criatividade, atenção ao comportamento do consumidor e disposição para experimentar novos formatos.

Inovar é necessário

Fidelizar o público hoje envolve mais do que cardápio e atendimento. Passa pela construção de comunidade, de espaços que ofereçam experiências genuínas, e de eventos que respeitem o novo ritmo de vida das pessoas. As cafeterias entenderam isso. E já começaram a se mover.

A pergunta que fica para os empresários do setor é: se até o café virou balada, o que mais pode ser reinventado no seu negócio?

Em 13 de novembro de 2023, o Ministério do Trabalho e Emprego publicou a Portaria MTE nº 3.665/2023, trazendo mudanças importantes para o funcionamento de estabelecimentos comerciais aos domingos e feriados. A medida revoga a permissão automática para o funcionamento nesses dias em alguns setores, que agora precisarão de autorização via convenção coletiva de trabalho e observância da legislação municipal local.

A implementação dessa nova regra estava prevista para o início de 2024, mas o prazo foi estendido, com a entrada em vigor da portaria programada para 1º de julho de 2025. Isso dá tempo para que as empresas e entidades comerciais se adequem às novas exigências.

Bares e Restaurantes Mantêm Permissão para Funcionamento

Apesar das mudanças, o setor de bares, restaurantes, cafés, confeitarias e sorveterias permanece com a autorização para funcionar aos domingos e feriados sem a necessidade de convenção coletiva ou de autorização municipal específica. Essa permissão está garantida pelo anexo IV da Portaria 671/2021, que assegura o funcionamento permanente desses estabelecimentos nesses dias.

Para os gestores desses negócios, isso significa que não é necessário modificar as operações relacionadas ao funcionamento durante domingos e feriados, podendo manter a rotina já praticada. A recomendação é continuar observando as regras trabalhistas, especialmente quanto ao pagamento em dobro ou compensação das horas trabalhadas nesses dias.

Cuidados Trabalhistas Permanecem Essenciais

Embora não haja mudança no funcionamento, é fundamental que os estabelecimentos continuem garantindo os direitos dos colaboradores que atuam nesses períodos. O pagamento em dobro ou a concessão de folga compensatória para os profissionais que trabalham em domingos e feriados são obrigações previstas em lei.

Além disso, ainda que não seja exigido para o funcionamento, acompanhar as convenções coletivas de trabalho vigentes é uma boa prática para ficar atento a possíveis benefícios ou mudanças negociadas que possam impactar a categoria.

Impactos e Expectativas para o Setor

Segundo especialistas, a manutenção da permissão para funcionamento nos domingos e feriados traz segurança e previsibilidade para os bares e restaurantes. Essa estabilidade é fundamental para o planejamento estratégico e operacional dos negócios, evitando interrupções que poderiam afetar o faturamento e o atendimento ao público.

Por outro lado, os estabelecimentos comerciais de outros setores deverão se adaptar às novas regras, negociando convenções coletivas e respeitando a legislação municipal para poder funcionar nessas datas.

Orientação para os Gestores

Diante desse cenário, gestores de bares e restaurantes devem manter atenção às normas trabalhistas vigentes, garantir os direitos dos colaboradores e acompanhar possíveis atualizações legislativas e negociações coletivas que possam surgir. A conformidade legal e o respeito aos trabalhadores são essenciais para a sustentabilidade e reputação dos negócios.

Os números de vendas do setor de bares e restaurantes em maio indicam uma estabilidade, com crescimento modesto em relação ao mês anterior, segundo dados recentes obtidos a partir das transações de clientes da fintech Stone. O resultado mostra um crescimento de 1% em maio, na comparação com abril, enquanto em relação a maio do ano anterior, houve uma leve queda de 0,9%.

Esse movimento reflete um cenário de recuperação gradual para o segmento, que ainda sente os efeitos da conjuntura econômica, mas aponta sinais de estabilização. Entre os 24 estados analisados, oito registraram crescimento anual nas vendas, com destaque para o Rio Grande do Sul, que teve alta de 12,5%, seguida por Mato Grosso e Rio Grande do Norte, com 4,7% cada.

Outros estados como Alagoas, Mato Grosso do Sul e Paraíba também apresentaram aumento nas vendas, embora a maior parte das unidades federativas tenha registrado queda em relação a maio de 2024. Entre os estados com recuo mais expressivo, estão Roraima (-7%), Bahia (-5,6%) e Tocantins (-5,5%).

Para o setor, esses números indicam uma fase de cautela. A retomada do mercado de trabalho, com a redução do desemprego e a criação de empregos formais, tem colaborado para aumentar a confiança do consumidor, fator essencial para os bares e restaurantes. Além disso, a inflação, apesar de ainda estar acima do ideal, mostrou desaceleração, principalmente nos serviços, o que também contribui para esse cenário.

Matheus Calvelli, cientista de dados da Stone, explica que “a estabilização das vendas sinaliza que o setor está encontrando um equilíbrio, com influência positiva do mercado de trabalho e da desaceleração da inflação”. Segundo ele, acompanhar esses indicadores é fundamental para que os empreendedores do ramo possam planejar melhor suas estratégias.

O levantamento que fornece esses dados considera o desempenho de estabelecimentos em todo o país, com base nas transações feitas via Stone, possibilitando um acompanhamento em tempo real das movimentações comerciais do setor.

Para os donos de bares e restaurantes, entender essas tendências é importante para ajustar investimentos, controlar custos e identificar oportunidades de crescimento dentro da atual conjuntura econômica.

A mais recente edição da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgada em abril pelo IBGE, trouxe números positivos para o setor de alimentação fora do lar. No recorte de 12 meses, o segmento apresentou crescimento na taxa de ocupação e atingiu o maior rendimento médio mensal da série histórica.

Entre janeiro e março de 2025, o setor empregava 5,56 milhões de pessoas. Apesar de representar uma leve retração em relação ao trimestre anterior, quando o total era de 5,74 milhões, o número é 1,3% maior do que o registrado no mesmo período de 2024. Já o rendimento médio mensal chegou a R$ 2.227, valor 2,8% superior na comparação anual, configurando um novo recorde para a categoria.

Mesmo com os avanços, a dificuldade para preencher vagas permanece como um dos principais desafios enfrentados por bares, restaurantes e casas noturnas em todo o país. Empresários do setor relatam obstáculos frequentes para contratar profissionais, especialmente em funções que exigem maior especialização, como cozinheiros, churrasqueiros e sushiman. 

A falta de qualificação técnica continua sendo apontada como o principal entrave, seguida pela escassez de interessados nas vagas disponíveis. A contratação de profissionais sem experiência prévia tem se tornado uma alternativa comum: muitos estabelecimentos têm optado por formar suas equipes internamente, a partir de treinamentos e programas de capacitação.

Entre as estratégias adotadas para enfrentar esse cenário, destacam-se o investimento em treinamentos internos e a criação de políticas de incentivo, como premiações por desempenho. A intenção é não apenas suprir as vagas em aberto, mas também fomentar o engajamento e o desenvolvimento dos colaboradores.

Para a Apressa, os dados reforçam a importância de ampliar a oferta de qualificação profissional no setor e fortalecer ações que valorizem a mão de obra. A criação de oportunidades de crescimento dentro dos próprios estabelecimentos é uma das saídas para reduzir a rotatividade e aumentar a eficiência das equipes, mesmo diante das limitações do mercado de trabalho atual.